Lula consolida favoritismo enquanto direita se fragmenta, avalia cientista político
O cientista político Paulo Niccoli Ramirez avalia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegará em 2026 como favorito à reeleição. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele afirmou que, embora ainda falte um ano para o pleito, “Lula já desponta como franco favorito”, impulsionado tanto pela recuperação da popularidade quanto pela “incapacidade dos grupos de direita de apresentarem uma política coerente com o país”.
Segundo Niccoli, episódios recentes no Congresso contribuíram para o fortalecimento do presidente. “Ontem nós vimos, mais uma vez, o Congresso dando um tiro no pé”, disse, ao comentar a derrubada da medida que previa taxar os super-ricos. “Apesar de não ter sido aprovada a taxação dos mais ricos, ficou evidente para a população que o Congresso é dominado por grupos de direita, empresários, evangélicos, que estão nem um pouco interessados com os problemas do país e dos mais pobres.”
O analista também apontou que o recuo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a tentativa de diálogo com Lula são um sinal do reconhecimento internacional do presidente. “Basta olhar as projeções das pesquisas para saber quem vai ser o próximo presidente. E Trump, que não é idiota, resolveu então abrir negociação”, observou. “Hoje o Brasil é visto como um grande intermediador dos conflitos internacionais. Basta lembrar como o Lula foi ovacionado na ONU [Organização das Nações Unidas]”, apontou.
Para Niccoli, a direita vive seu “pior momento” desde a redemocratização. Ele destaca que nem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado à prisão por tentativa de golpe, nem o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) conseguem se consolidar como alternativa. “A direita não tem um nome moderado, com força, capaz de concorrer com Lula”, afirmou. “O marketing político do Tarcísio é um horror, um dos piores feitos desde a redemocratização”, avaliou.
Sobre o futuro político do governador de São Paulo, que minimizou a crise de intoxicações por metanol no estado ao fazer piada sobre o assunto, o professor disse que “um político precisa ler minimamente Maquiavel [filósofo que formulou as bases da teoria moderna do poder]. Uma coisa é o que pensamos, outra é o que se deve dizer. Político que fala qualquer coisa, depois pede desculpa, perde popularidade. É o que está acontecendo com Tarcísio.”
Niccoli também prevê que o centrão deve voltar a se aproximar do governo, movimento que pode fortalecer a base aliada. “É muito mais vantajoso para o político hoje estar perto do Lula do que criticá-lo”, indicou. Para ele, a disputa legislativa de 2026 será decisiva para definir o rumo do próximo mandato. “Nunca o PT esteve em melhor momento para conseguir reverter esse quadro [de minoria no Congresso]”, ressaltou.
BdF
Foto: Ricardo Stuckert / PR