Sob pressão, Jerônimo tenta dividir o ônus da crise da segurança pública com Lula

Por Nossa Hora
Quinta-Feira, 24 de Outubro de 2024 às 12:30
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Pressionado pela oposição e a opinião pública após casos de violência na Região Metropolitana de Salvador, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) passou a dividir, nesta semana, o ônus da crise da segurança pública com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Jerônimo Rodrigues, que frequentemente afirma que a violência é um problema de âmbito nacional, começou a atribuir os crimes à falta de fiscalização nas fronteiras estaduais e, em declarações públicas, tem cobrado a Lula uma maior atuação nesse sentido.

“Às vezes, a gente faz o papel de inteligência. Mas tem uma inteligência que é feita e não depende do governo do estado. Depende da União. É responsabilidade do Lula. Eu votei nele, mas estou cobrando a ele, pedindo a ele para fazer. Quando as informações transitam de um estado para outro, eu tenho limite de fronteiras. Eu não posso ultrapassar o limite do Espírito Santo, de Minas Gerais, de Goiás. Os outros governadores fazem, mas é preciso que a União também entre”, declarou nesta quinta-feira (24), em entrevista à rádio Sociedade.

Nesta quarta-feira (23), em entrevista à rádio Metrópole, Jerônimo também citou o presidente da República. "Eu faço o meu papel. Eu peço a Lula que nós precisamos defender as fronteiras, as informações passam nas fronteiras. Tem que ter inteligência para cortar quando é da Bahia para outro canto ou de outro canto para a Bahia, quando as armas passam, quando as drogas passam de um estado para o outro. A movimentação do crime organizado tem inteligência. Nós temos que ter inteligência maior do que a dele", salientou.

Na semana passada, Lula esteve em Salvador em meio à crise da segurança pública na Bahia. Ele não falou sobre a violência no estado, mas disse que pretende reunir os governadores para criar uma política de segurança pública que envolva os três entes federativos. O presidente ainda declarou que quer encaminhar a proposta sobre o tema para o Congresso Nacional neste ano a fim de que seja aprovada em 2025.

“Queremos que a gente possa definir o papel da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e da Guarda Nacional, participando junto com as polícias estaduais. Precisamos ter uma coordenação nacional”, declarou, em entrevista à rádio Metrópole.

Grave problema

A situação da segurança pública tem gerado desgaste ao governo Jerônimo. Uma pesquisa divulgada pelo instituto Quaest, em agosto deste ano, chegou a apontar que 51% do eleitorado soteropolitano consideram o tema como o mais grave problema da capital baiana. O cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Fábio Dantas Neto, avalia que a quinta administração petista na Bahia tem, até aqui, sido “desastrosa”.

“O próprio (Jaques) Wagner reconheceu que de fato há muitas queixas de que o governador não está no palácio para atender. Ele também está nas ruas, viajando. De fato, Jerônimo, se olhar a avaliação da imagem pessoal dele, não é uma coisa catastrófica, porque ele é uma liderança política de pouca expressão. Então, não tem grande rejeição. Mas a avaliação do governo é um desastre. O que a oposição está batendo de que ele não governa parece que está ficando cada dia mais evidente”, analisou o especialista, em entrevista ao CORREIO.

Diante das críticas da oposição à violência no estado, Jerônimo tem se queixado dos adversários. Na entrevista à Metrópole nesta quarta, o governador chegou a mencionar a palavra "oposição" 16 vezes em uma hora de bate-papo.

Casos de violência

A Região Metropolitana de Salvador tem presenciado dias de terror. Esta semana, o bairro soteropolitano Santo Inácio registrou uma noite de confrontos entre mais de dez traficantes.

Na última terça-feira (22), um ataque da facção criminosa Katiara contra integrantes do Bando do Maluco (BDM) em Cajazeiras 11 causou pânico durante a madrugada.

No sábado (19), cinco pessoas que estavam em uma praça no bairro Sete de Abril foram mortas em outro ataque violento.

Na semana passada, ao menos cinco bairros da capital baiana ficaram com a circulação de ônibus parcialmente suspensa por causa de conflitos armados. A onda de violência acompanha o aumento recente de homicídios na Região Metropolitana de Salvador, onde ao menos 22 pessoas perderam a vida num intervalo de 48 horas.


Correio


Crédito: Ricardo Stuckert/PR