‘Primeiro ano de governo Milei foi muito melhor do que se esperava’

Por Nossa Hora
Segunda-Feira, 20 de Janeiro de 2025 às 12:45
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Antes cético em relação à capacidade do presidente da Argentina, Javier Milei, ter sucesso na condução da economia do país, o economista Fabio Giambiagi agora afirma que os resultados das políticas adotadas pelo ultraliberal foram melhores do que o esperado. “O primeiro ano do governo foi certamente muito positivo”, diz o pesquisador do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas).

Filho de argentinos, o economista viveu no país vizinho durante sua infância e diz que a situação da população melhorou nos últimos 12 meses. “Estive na Argentina em janeiro de 2024 e agora. A diferença social é da água para o vinho. Havia uma situação de enorme emergência um ano atrás e agora a situação está mais tranquila.”

Apesar de o nível de pobreza no país ter atingido 52,9% no primeiro semestre de 2024, é provável que o indicador tenha caído na segunda metade do ano, afirma ele. Os números do fim de 2024 serão conhecidos apenas em março. “É razoável imaginar que, na mensuração de dezembro, haverá uma queda. Essa mensuração segue outros indicadores. Por exemplo, os salários: houve perda inicial grande, mas eles já estão em recuperação.” Giambiagi, no entanto, destaca que o governo Milei ainda será submetido a um grande teste quando retirar as restrições ao câmbio que vigoram hoje. Quando isso for feito, explica o economista, a inflação poderá voltar a subir. “A prova vai ser quando o câmbio for livre, como ocorreu conosco em janeiro de 1999. Inicialmente, enfrentamos um ceticismo grande, mas o aís passou com sucesso no teste.”

Diz ainda que será preciso ver se a estabilização da inflação será capaz de dar dinamismo à economia. “No caso brasileiro, o efeito da queda da inflação na recuperação da atividade foi modesto.”

O pesquisador destaca também que Milei enfrenta uma maratona, não uma corrida de 100 metros, mas afirma que o presidente já começou melhor do que Mauricio Macri – que também teve seus resultados econômicos celebrados inicialmente, mas deixou a Casa Rosada com o país em recessão e enfrentando inflação em alta. “Há uma diferença enorme entre a situação fiscal atual e a do governo Macri. Claramente hoje é muito melhor. Se isso será suficiente para que a história seja diferente, veremos.”

Disse ele num dos trechos da entrevista:

“Antes de o Milei assumir a presidência, o sr. estava cético em relação à possibilidade de o governo ter sucesso na economia. Como avalia o resultado do primeiro ano de governo? Foi certamente muito positivo e melhor do que eu e a grande maioria dos analistas esperávamos. Houve três diferenças importantes em relação ao que imaginava. Primeiro, o governo mostrou ter habilidade política. E, aí, um papel fundamental cabe ao Guillermo Francos, chefe de gabinete. Em segundo lugar, havia um ceticismo muito grande em relação ao cumprimento do déficit zero. Contra fatos, não há argumentos (o país teve, em 2024, um superávit primário de 1,8% do PIB e financeiro de 0,3% do PIB). Por último, os números de inflação são certamente muito melhores do que aqueles que o mercado imaginava no começo do ano (a inflação caiu de 211% em 2023 para 117,8% em 2024)”.

E disse ainda:

“A maioria dos analistas considera que, no dia em que o câmbio flutuar, alguma desvalorização será mais ou menos inevitável. A dúvida é quanto disso passaria para os preços. Quem defende a medida diz que o repasse seria mais modesto, como foi no Brasil em 1999. Quem se opõe à medida, argumenta que isso poderia desatar uma corrida cambial. Muito provavelmente o governo vai tentar obter fundos em um acordo com o FMI que lhe permita ter uma maior flexibilidade”. 

Foto: Fabrice COFFRINI / AFP