O Banco Mundial pede que a América Latina priorize o combate ao crime organizado.


É imperativo que os países latino-americanos priorizem o combate ao crime organizado de uma vez por todas. O alerta vem do Banco Mundial, que em seu último relatório sobre o assunto, apresentado nesta segunda-feira em Washington, pinta um quadro tão sombrio quanto complexo de resolver. "Seu domínio aumentou não apenas em países como Colômbia, Brasil e México, onde o narcotráfico e os grupos criminosos estão presentes de uma forma ou de outra há décadas, mas também em novos países", diz o relatório " Crime Organizado e Violência na América Latina e no Caribe ". As consequências negativas desse crescimento são múltiplas, diz o Banco Mundial, e ele chama a atenção para a eficácia limitada das políticas de "repressão ao crime", tão populares em países como El Salvador e Argentina, se forem acompanhadas de "medidas de prevenção de longo prazo".
“O crime organizado e a violência atrapalham o caminho para o desenvolvimento”, diz o Banco Mundial, listando uma longa lista de consequências negativas para o crescimento econômico. “A incerteza sobre os direitos de propriedade reduz e distorce o investimento; a extorsão e a insegurança aumentam os custos de transação das empresas e reduzem sua competitividade; gastos improdutivos com segurança pública desviam recursos de gastos com saúde, educação e infraestrutura que poderiam melhorar a vida das pessoas; vítimas de violência veem sua capacidade de acumular capital humano reduzida; crimes contra bens ou propriedade corroem o capital físico; o tráfico de drogas, a mineração ilegal e os crimes contra a flora e a fauna deterioram o capital natural por meio do desmatamento e da poluição da água; comunidades que vivem sob o controle do crime organizado perdem suas liberdades básicas; a infiltração de instituições estatais enfraquece a qualidade do governo e a prestação de serviços essenciais”, detalha o texto.
O relatório chama a atenção para os níveis mais altos de violência letal na América Latina em comparação com outras regiões. Embora represente apenas 9% da população mundial, é responsável por um terço de todos os homicídios. Na primeira década deste século, a taxa média de homicídios na América Latina era 5,4 vezes maior que a mundial (22,0 contra 4,1), e a diferença aumentou para oito vezes nos últimos 20 anos. O problema surge em um contexto de instituições fracas que "agravam o problema em vez de mitigá-lo". A luta contra o crime organizado é dificultada por deficiências nos sistemas prisionais, nas forças policiais e nos sistemas de justiça. Em muitos lugares, grupos do crime organizado assumiram o controle das prisões e estão comandando o crime de dentro delas. "Políticas de "punho de ferro" nesse cenário são altamente dependentes do contexto específico em que são implementadas, e essas estratégias são frequentemente contraproducentes", alerta o Banco Mundial.
Falta de oportunidades
"O crime organizado prospera com a falta de oportunidades, a presença insuficiente do Estado e a fraqueza institucional", diz o relatório. E ele alerta que qualquer solução sustentável ao longo do tempo deve abordar essas deficiências. “A médio e longo prazo, a melhor política de segurança pública é construir Estados mais funcionais que possam oferecer oportunidades iguais para todos, incluindo melhores sistemas educacionais e mercados de trabalho que possam proporcionar empregos de qualidade”, afirma.
No futuro imediato, porém, é necessário fortalecer o poder do Estado na segurança, priorizando a capacidade prisional, com melhor policiamento e um sistema de Justiça que "mitigue as expressões mais danosas do crime organizado e controle sua disseminação". “Também deve priorizar intervenções de prevenção voltadas para jovens em risco de ingressar em grupos criminosos. Ambos os esforços exigem dados e estudos de melhor qualidade para orientar a formulação de políticas públicas (...) A prevenção não pode substituir as políticas de segurança, mas é um complemento fundamental. Da mesma forma, uma boa política de segurança sem medidas de prevenção será insuficiente a longo prazo”, conclui.
El País
Foto: Pablo Porciuncula/AFP